sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

UFSC: no rumo da universidade necessária


Chamada por um grupo de técnico-administrativos, professores e estudantes, aconteceu nessa quinta-feira, dia 07 de novembro, uma reunião pública para discutir a possibilidade de uma candidatura para as eleições na UFSC. A discussão foi chamada tendo como referência o nome de Irineu Manoel de Souza, que participou da última consulta, na qual saiu vencedor Luiz Cancellier. 

As eleições na UFSC acontecem de maneira atípica, depois da tragédia que vitimou Cancellier. Preso pela Polícia Federal, sofreu violência e humilhações, sendo também impedido de entrar na universidade, sob uma acusação de tentativa de obstrução de Justiça, sem qualquer prova ou embasamento. Premido pela humilhação pública ele acabou se matando. Com sua morte veio a necessidade de substituição legal.

Como a UFSC não tem nos seu estatuto uma regra clara para a transição em caso de morte do reitor, adveio uma grande confusão. A vice-reitora, apesar do apoio recebido de toda a comunidade para seguir com o mandado, acabou pedindo licença de 60 dias e deixou a universidade sem direção. A partir daí abriu-se o debate para novas eleições diretas. E foi o que acertou o Conselho Universitário.

Na reunião realizada no CSE, com a presença de um bom número de trabalhadores e estudantes, as falas que se seguiram apontaram a necessidade de uma candidatura que seja firme na defesa da universidade pública, hoje sob forte ataque por parte do governo e das forças da repressão. O programa apresentado por Irineu nas últimas eleições ainda segue bastante atual nessa conjuntura porque aponta para a necessidade do aprofundamento da democracia, para a transparência, para a participação efetiva dos trabalhadores e estudantes no comando da instituição. Tem posição clara quanto ao Hospital Universitário, a pesquisa, a extensão, pelas 30 horas e contra o ponto eletrônico.

Foi lembrado também que a conjuntura é bastante favorável para uma candidatura que seja bastante radical, no sentido de não abrir mão da defesa intransigente de uma universidade visceralmente ligada aos interesses da comunidade onde está inserida.

As forças que compõe o poder na UFSC estão em movimento. Possivelmente haverá uma candidatura da direita tradicional, que na última eleição foi representada pelo professor De Pieri, a qual virá para defender os interesses de grupos bem específicos dentro e fora da UFSC. Também haverá candidatura representando o grupo de Cancellier, representando a continuidade do projeto que estava em curso, alinhado aos ditames do governo e sem uma postura mais radical com relação aos grandes problemas estruturais da universidade.

A candidatura de Irineu Manoel de Souza pretenderá ser essa radicalidade. Uma candidatura sem ambiguidades. Capaz de dialogar sem medo com os trabalhadores, de caminhar segura no sentido de garantir a permanência dos estudantes e de constituir com os professores propostas vinculadas a vida da cidade e do país. O reitor necessário agora, nessa conjuntura, é o que fala claro e aprofunda os processos participativos de decisão. Um dirigente que seja capaz de discutir em profundidade a questão das Fundações e que dirija um processo nacional de construção de outro projeto de universidade, popular, nacional e transformadora.  

Essa é nossa hora histórica. Momento único de garantir que a universidade de Santa Catarina seja o motor da mudança. São tempos difíceis que exigem posturas radicais. O grupo reunido no CSE indica o nome do Irineu para comandar esse processo.

A partir de agora, devem se realizar novas reuniões, visitas aos setores e a reconstrução coletiva do projeto apresentado na última eleição. A conjuntura não é mais a mesma de um ano e meio atrás. Vivemos um processo de golpe no qual a universidade vem sendo alvo de ataques e o Banco Mundial indica sua destruição. Não é tempo de vacilações ou meias-palavras. É tempo de firmeza e de clareza política.

Vamos com Irineu rumo à universidade necessária.  


quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

As tarefas do pai


Imagine um homem que foi arrimo de família uma vida inteira. Sempre preocupado com as contas, com os compromissos, com as compras, com tudo. Tudo apontadinho, tudo organizado. Meu pai sempre foi assim. Aí vem aquele momento do esquecimento. A memória falha, as coisas ficam confusas. Isso parece ser coisa normal entre aqueles que vivem muito. E já se vão lá 86 anos...

Por isso é fundamental que, nessa etapa da vida, eles tenham tarefas cotidianas para cumprir. É uma maneira de não se sentirem inúteis. Outro dia, ao chegar a casa, ele estava agitado. Pegou minha mão e disse: precisamos conversar, com aquele tom solene. Então, explicou: “preciso ver como arranjar um emprego. Tenho que trabalhar”. Posso com isso?

Expliquei pra ele que já trabalhara muito, por quase 50 anos, e que agora estava aposentado. Falamos longamente de seus antigos empregos e tudo o que já fizera. E que isso garantia a ele seu salário, portanto não precisava preocupar. Ele respirou, aliviado: “agora tô mais tranquilo”.

Também mostrei que ele segue tendo obrigações importantes. É da responsabilidade dele regar as plantas, secar os pratos e cuidar dos cocozinhos dos cachorros, tarefas que cumpre religiosamente, até quando chove.

Essa última, dos cocôs, ele cumpre de um jeito bem peculiar. Caminha pelo quintal, de ponta a ponta, procurando por eles. Encontrando-os, coloca ao lado deles um pauzinho, como uma marcação. Quando eu chego, no fim da tarde, ele está esperando no alpendre e já avisa: “tá tudo marcadinho”. É a minha vez de atuar então, juntando cada um dos cocôs e enterrando na compostagem. Ele faz sinal de positivo com o dedo, sorri e dispara: “parceria perfeita”.

E é bem assim.  

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

As casas choram...



Havia tempos que eu não passava pela Mauro Ramos. E, assim, de chofre, amuei. Lá estava a lógica dos espigões colocando abaixo mais algumas daquelas casas típicas, açorianas, que um dia fizeram a paisagem da rua. Poucas restam agora. Sempre me encantei com aquelas que ficavam ali próximas da Fecesc, três, grudadinhas, parede com parede. Agora não há mais.

Uma delas foi preservada para servir de fachada a um destes monstros de cimento. O pastiche de um tempo que não existe mais. Uma casquinha ritual, absolutamente perdida de sua beleza e historicidade, tal como ficou a Casa do Barão.

Casas que um dia pertenceram aos mais ricos, claro, por isso tão bonitas e cheias de rococós. E que poderiam servir de casas de cultura, cinema, pontos de cultura, sei lá. A gente se apossando dos espaços que no passado nos eram negados. Mas, não. Eles continuam não sendo nossos e mesmo fazendo parte de toda uma arquitetura típica ficam ali, como uma farsa.

Parei diante da casinha verde, que parecia gritar de medo e de solidão, e chorei. Minha cidade vai sumindo na bruma dessa modernidade burra. Logo, logo não haverá na Mauro Ramos mais que prédios e templos.