quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O cantor


Já faz algum tempo, ele tomou o espaço ao lado do camelódromo. Chega com sua caixa de som e começa a cantar. Já tem até um público cativo. Senhorinhas alegres param e acompanham as canções, batendo palma e cantando. Também param os senhores mais velhos e alguns mais jovens. Ele já conhece muitos dos fãs pelo nome. Faz piadas, oferece música. É uma alegria. O pessoal dos boxes parece gostar muito dele, e as gurias mandam biscoitos, bolos, café e refrigerante. Ele recebe, agradece, manda música. É uma estrela ali naquele pequeno pedaço do centro da cidade. Canta canções antigas, sucessos dos anos 60 e 70, distribui beijos e autógrafos. É um homem bonito, ainda que maltratado. Tem uns olhos claros magníficos e emposta a voz para cantar. 

Sempre que vou ao centro eu fico ali um tempo, junto com as senhorinhas, vendo sua performance e cantando com ele. Gosto das músicas. Vendo-o sou tomada por uma infinita ternura. Pessoas assim são raras. Nada sei da sua vida, das suas dores, mas só de olhar para ele, e acompanhar o brilho intenso dos seus olhos claros a gente percebe o quanto ele faz aquilo com gosto, com amor. O quanto é grato por aquele carinho. Olho para aquelas senhorinhas que cantam e batem palma e sinto vontade de abraçá-las. Elas mesmas buscando ali pedaços de beleza de um passado que as canções evocam. E nessa busca, estendendo amorosamente seus braços ao artista, que se alimenta daquele amor. Pequenos gestos poéticos que esboroam a tristeza ... 


Um comentário:

João Luiz Pereira Tavares disse...

O “algo mais” do PT na arte e na cultura:
O PT detesta a cultura popular e a erudita ao mesmo tempo.
Bom, Yamandu Costa é música de grande qualidade. Não tem nada a ver com o PT, ok?
Inclusive música pra poucos brasileiros (por ser complexo), ou seja:
de “elite”. Assim como Machado de Assis, Villa-Lobos são arte de elite, sim.
O mesmo Dostóievsky. Elite honrada.
Não se trata do lixo bem tragável de Q o PT gosta, venera, ama e adora, não.

E, por outro lado, o bem centrado MBL [Mov. Brasil Livre] em
seu papel empírico, em 2016 faz jus ao nome dessa sigla, certo?
A diminuição do poder vigarista do PT com
a saída de Dilma em 2016, — mesmo c/Lula solto hoje –, foi fortemente permitido devido ao MBL.
Empírico, corajoso e pragmatista, o Arthur do “Mamãe Falei” ajudou bastante
a desconstruir o discurso ideológico
do PT através do método socrático.
MBL e o Arthur lutam contra
o lixaço da doutrina petista (conhecida como Petismo),
lutam contra o brega, o barangismo petista,
mau gosto, o barango do sertanejo universitário
do petismo [criado na Era Dilma-Lula],
o cafona, o lixo se fingindo de “arte” em galeria picareta,
e lutaram contra autoritarismo
sufocante e mortal do PT
e o Kitsch. E isso é excelente!
Yamandu não tem nada a ver com PT.