quinta-feira, 20 de abril de 2017

O lugar do corpo na cena



Para Marcos Mazzuco

A nova votação no Congresso Nacional brasileiro, configurada como manobra, aprovou a urgência no projeto da reforma trabalhista. Uma votação no dia anterior derrotara o governo. Eles votaram de novo, até ter quórum para sua vitória. O golpe no golpe, se fazendo cotidianamente, e transmitido ao vivo, pela TV. A ação criminosa dos meios de comunicação cuja função é desinformar, desintegrar, fragmentar, levando a população ao engano e a alienação. O crescimento de figuras como Dória, empresários gananciosos gerindo o estado, escrachando ainda mais a verdadeira verdade que é a de que o estado é o balcão de negócios da classe dominante.

No plano internacional temos a guerra contra a Síria, mais uma obra do império estadunidense, que já tem plantado campos de guerra no Afeganistão, no Iraque, na Palestina, na Somália, no Haiti, e em tantos outros espaços onde age, com armas ou conspirações. A possibilidade de um iminente ataque nuclear no mundo, levando nações à guerra, sem nem saber por quê.

Nossa América Latina sob ataque constante dos “tanques de pensamento” neoliberal e imperial, provocando a desestabilização, a violência, a destruição. É o que se vê na Venezuela, onde a direita, financiada pelos Estados Unidos, forma e arma jovens pobres para destruir a possibilidade de uma nação ser soberana e livre. A perversidade da destruição por dentro. E tudo em nome do enriquecimento de alguns, porque essa molecada que está na rua provocando a violência não terá espaço numa Venezuela “azul” (cor dos esquálidos).

O nosso Brasil, vivendo de maneira clara e concreta um retrocesso abissal. Os direitos dos trabalhadores sendo retirados, a impossibilidade de uma vida digna, a saúde destroçada, a educação entrando na idade média, a violência aumentando de maneira exponencial, os povos indígenas sofrendo novos reveses, perdendo territórios já conquistados, jovens negros morrendo como moscas.

Tudo isso nos coloca um novo/velho problema: qual o lugar do nosso corpo nessa cena?

Os governos petistas que atuaram desde 2003 incentivaram os trabalhadores a acreditar que com eles lá, tudo estava dado. Os corpos em luta – pelo menos uma grande parte - saíram de cena, apostando na institucionalidade. Mas, a realidade mostrou que isso foi um erro. Um governo não pode tirar o povo da rua. Pelo contrário. Tem de fomentar cada vez mais a rebeldia e a radicalidade, porque as mudanças, mesmo as mais pueris, são enfrentadas com violência pela classe dominante. 

Agora aí está. Um golpe atrás de golpe. Um congresso entreguista, que se move a partir dos interesses dos conglomerados empresariais. Tudo contra as gentes, contra os trabalhadores, contra a vida. Votação trás votação, os direitos se perdendo e a classe dominante abocanhando tudo o que há.

Enquanto isso, nas ruas, nos bairros, nas escolas, nas igrejas, nas comunidades, as pessoas estão perplexas, hipnotizadas pela televisão. Há uma paralisia, um estupor. E claro, não é “culpa” das gentes. A responsabilidade é de quem, por apostar no campo institucional, descuidou da formação de base. Um povo capaz de lutar é um povo organizado desde baixo, na cabeça e no coração. E isso significa trabalho, árduo e cotidiano, nos fundões da vida.

Esse é lugar do corpo na cena. O corpo em movimento, nas quebradas, nos bairros, na vida dos trabalhadores. O corpo falante, contando as histórias dos ancestrais, contando das tantas lutas já travadas, dos nossos heróis, nossas heroínas, desvelando as possibilidades de vida boa e digna. O corpo brincante, dançante, festivo, capaz de se alegrar na comunidade, ao mesmo tempo em que aponta caminhos de belezas coletivas e solidárias. Um corpo capaz de seduzir o outro, para além do discurso, mas com o exemplo concreto e cotidiano.

A cena do grande teatro humano é a sinistra globalização do modo capitalista de produção. A luta de classes é o enredo. E o lugar do corpo, do nosso corpo, é junto aos oprimidos, aos de baixo, à maioria. Não importa em qual cantinho da cena estamos: na universidade, no teatro, na música, no sindicato, na igreja. Nesse nosso cantinho singular nosso corpo deve estar em luta. Em luta com os trabalhadores.

E todo esse movimento deve desembocar agora, no dia 28, na Greve Geral. Depois, é ir crescendo, crescendo e crescendo... Para esse ainda-não tão sonhado, para lá mandaremos nosso corpos em luta...




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