terça-feira, 13 de setembro de 2016

A política da cidade



Uma cidade para a maioria - Foto: eduardovalente.com.br 

Num sistema como o nosso, executivo e legislativo atuam em sintonia. Não adianta eleger um prefeito progressista ou de esquerda, e colocar na Câmara de Vereadores, gente de direita ou atrasada. O legislativo pode barrar projetos, recursar leis e tudo mais. Tem que ser casado.

Agora, em Florianópolis, estamos vivendo mais um momento de eleição. Os candidatos se apresentam e disputam a cidade. Para mim, o certo mesmo era não ter candidato de esquerda. Estamos sob golpe em nível nacional. Mas, ao que parece, isso não impede que os partidos participem do pleito municipal, muitas vezes com alianças “doidas” demais.

Resta tomar a decisão. Ou votar nulo ou escolher alguma opção que possa ser melhor para o projeto de cidade que defendemos. Dentre os sete candidatos à prefeitura – três mulheres e quatro homens -  tirando o Elson (PSOL) e Gabriela (PSTU), o demais é mais do mesmo. Os defensores do capital na versão forte, e os da versão suave. Nenhuma ilusão com eles. Elson tem um acúmulo que vem da eleição passada, quando ele defendeu o projeto de cidade que estava bastante afinado com as lutas que vínhamos travando no debate do Plano Diretor. E Gabriela traz a proposta abrangente do PSTU, sem muita afinação com as questões mais paroquiais.

Dentre os candidatos à vereança, vivemos o suprassumo do surreal, com as candidaturas de dez pessoas, que já são vereadores na legislatura atual, e que concorrem à reeleição apesar de denunciados pelo Ministério Público na Operação Ave de Rapina, aquela que investiga casos de corrupção. Dois deles chegaram a ser julgados na Câmara por quebrarem o decoro, e foram absolvidos. O mais louco é que todos eles podem ser reconduzidos, justamente por conta do bom e velho poder econômico que dispõem para incentivar o voto.

Eu, que sou uma otimista indômita, fico na esperança de que as pessoas usem o cérebro para votar. Que coloquem no legislativo municipal pessoas que realmente vão atuar na defesa de uma cidade boa de viver, com prioridade para os seres viventes e não para as máquinas, o cimento e o lucro de alguns. 

Não dá para votar em alguém só porque é amigo, conhecido ou parente. Tem que ver qual é o projeto de cidade que a pessoa defende. Que interesses estão por trás da pessoa? Quem o financia? Quem paga pela campanha é quem vai mandar no vereador. Sem essa informação, a gente está entregando o voto para alguém, que pode até ser legal e nos dar uma coisinha, mas que lá na frente vai atender a interesses outros que não os da maioria.

Esses vereadores que foram denunciados pelo Ministério Público são acusados de receber dinheiro para barrar ou forçar a aprovação de projetos de interesses de empresas, que no mais das vezes, eram contra os interesses da maioria da população.

O vereador é nossa ligação mais próxima com a administração da cidade. Com ele podemos participar ativamente de todas as decisões sobre a vida de todos nós. É esse vereador que chama para o debate, que se curva aos desejos da maioria das gentes, aquele que deve contar com nosso voto.

Eu já escolhi o meu. Votarei no Lino Peres, que nessa legislatura em curso, efetivamente tem representado os interesses de todos aqueles que lutaram pelo Plano Diretor Participativo, pelas demandas dos negros, das mulheres, das comunidades de periferia, por uma melhor mobilidade, enfim, por temas que envolvem as pessoas comuns, e não os grupos de poder ou de interesse econômico. Claro que há outros candidatos que certamente farão o mesmo trabalho, e é eles que devemos elevar à condição de vereador. Colocar ali, na Câmara, um número maior de pessoas que pratiquem o que o filósofo Enrique Dussel chama de “poder obedencial”, ou seja, que legislem baseados nos interesses da maioria dos trabalhadores, das gentes que constroem de fato essa cidade.

Na última legislatura tivemos dois vereadores de oposição: Lino e Afrânio. Duas pessoas lutando pela cidade de verdade. Tem que ter mais. Já basta dos sugadores da esperança pública. Escolha bem o seu candidato. Não vote por amizade ou interesse pessoal. Pense que a cidade é a sua casa e é preciso que os que estão na Câmara sejam capazes de cuidá-la bem. 

Eu quero uma cidade na qual as pessoas possam se mover, que o transporte público seja bom e eficaz, que haja planejamento, que o cimento não engula a beleza, que os parques proliferem, que não se renda à ganância ou ao turismo para os ricos. Que seja desfrutável por nós, os sem dinheiro, que garanta a sobrevivência da cultura originária, que acolha os forasteiros sem olhar a condição social, que garanta água pura e vida boa.

Penso que podemos construir essa cidade. Mas não será com os velhos modelos de políticos, representantes dos ricos, dos empresários e dos graúdos. É tempo de darmos chance ao novo, ao que busca caminhar com a maioria. E, ainda que não seja o candidato perfeito – coisa difícil de achar – eu vou de Elson, 50. Um fio de esperança, mas pelo qual vale a pena sair de casa e votar.

A luta não se esgota na prefeitura e essa não é a mãe de todas as batalhas. Mas é a que temos para hoje. 

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