sexta-feira, 1 de abril de 2016

Nas ruas, contra o golpe















Fotos: elaine tavares



Veio o aguaceiro, a chuva fina, o raio e o trovão.  Tudo conspirava para que as pessoas se recolhessem, fugindo da borrasca. Mas, não. Nem eram cinco horas, e os guarda-chuvas já apontavam no alto da Felipe em direção ao terminal de ônibus.  Sob a chuva chegou o caminhão de som, e aos poucos as pessoas foram se aglomerando em volta dele. Aquele não era um dia comum. 

Num 31 de março, no distante 1964, a vida dos brasileiros tinha dado uma volta grande. Pela força bruta os trabalhadores saíram de um crescente fortalecer da luta popular, para o golpe militar. E o que era esperança e alegria pela possibilidade de uma reforma agrária, ou de outras reformas de base, virou noite escura, sofrimento, morte e dor.  Nesse terror os brasileiros viveram 20 anos. Sem direito a participar da vida nacional, sem liberdade, sem direito à palavra ou ao sonho. 

Hoje, tanto tempo depois, o país volta a viver a possibilidade de outro drama como aquele de 64. Não igual, mas equivalente. Os golpes do século XXI, pelo menos na América Latina, tem tido outra conformação. Como em Honduras ou no Paraguai, chegam sem canhões, pela via legislativa ou judiciária. Mas, são igualmente danosos e violentos. 

Contra isso, as gentes foram às ruas.  

Na capital catarinense, o número de pessoas nas ruas, mesmo com a chuva, superou o ato do dia 18. Perto de quinze mil estiveram em frente ao terminal com suas faixas e cartazes feitos à mão. Cada um com sua demanda, mas todos unificados contra o golpe parlamentar que está em curso. Somaram-se a outras milhões de pessoas em todo o país que igualmente foram às ruas gritar contra o golpe. 

No alto da torre do mercado, isolada - talvez com medo das gentes  - a equipe da RBS (afiliada da Globo) registrava o ato, enquanto ouvia o grito: "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Embaixo, a chuva embalava o canto de velhas canções, hinos de resistência e amor por um país livre e soberano. E, mesmo os adversários das lutas cotidianas, se abraçavam e, de mãos dadas, unificavam os desejos.

No Congresso Nacional, deputados envolvidos em variados escândalos de corrupção formam uma comissão que propõe o impedimento da presidente Dilma Roussef, ainda que sobre ela não pese qualquer acusação, a não ser alguns testemunhos – baseados em delação – de que ela “sabia” dos desvios da Petrobras, ou que ela teria cometido improbidade administrativa ao rolar a dívida do estado. Nenhum dos argumentos tem base legal para um impedimento. 

Não se trata agora de discutir se esse é um bom governo para os trabalhadores ou não. Quem foi à rua, mesmo com críticas severas ao modo petista de governar, sabe que o que está em tela no Congresso é um golpe. E mais, sabe melhor ainda o que vem depois de um golpe. Tal qual em Honduras e no Paraguai, a aparente normalidade institucional que se seguiu ao golpe, trouxe com ela o assassinato de lideranças de esquerda, a desaparição de jornalistas, sindicalistas e lutadores sociais e impôs a cultura do medo.

No Brasil, nunca mais! É o que dizem as ruas... Contra o golpe e pela liberdade. 

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