sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Uma cultura gaúcha rebelde






Durante o Primeiro Acampamento de Juventudes do Campo e da Cidade, uma das oficinas oferecidas trouxe o debate sobre a cultura gaúcha. Ministrada por Carlos Pinheiro, que também coordena em São Miguel do Oeste um grupo de danças gaúchas, o Desgarrados, a oficina trouxe elementos bastante originais no debate.

Carlos discutiu o conceito de gaúcho, mostrando que viver essa cultura não está necessariamente vinculado a ter nascido no Rio Grande do Sul. O “gaúcho” é aquele que cultiva determinada maneira de viver a vida e o espaço geográfico onde se origina ultrapassa as fronteiras de vários países dessa América Latina.

De uma maneira bastante crítica, Carlos discorreu sobre as danças, a comida, as vestimentas, mostrando a origem de cada coisa e explicando a importância da cultura na vida das pessoas. O gauchismo tem também uma grande dose de coisas inventadas pelos velhos tradicionalistas do Rio Grande, algumas interessantes, outras nem tanto. Muitas, conforme Carlos, servem apenas para consolidar certas relações de dominação que precisam ser destruídas. No trabalho que desenvolve com a juventude, o coordenador do Desgarrados procura mostrar todos os lados das tradições, refletindo criticamente sobre elas.

As relações com os Centros de Tradições Gaúchas (CTG) e com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) também são mostradas nas suas contradições, buscando debater criticamente a política desenvolvida por essas entidades – no geral, conservadoras - sem perder o amor pela cultura.
Uma oficina bastante original, visto que no mais das vezes, falar de gauchismo é perpetuar relações de poder baseadas na ordem patrão/peão, típicas do campo conservador. Com Carlos, pudemos vivenciar outro gauchismo, carregado de rebeldia, de história das gentes simples, de protagonismo das gentes simples, de crítica e de transformação. Mais uma adorável surpresa das tantas que esse encontro de juventude nos trouxe.


O grupo de danças gaúchas coordenado por Carlos não apenas reproduz os passos tradicionais de bailados tradicionais. Ele discute a cultura, aprofunda a crítica e caminha construindo novas trilhas nesse universo que muitas vezes é bastante reacionário. Carlos Pinheiro mostra que é possível viver a cultura, sem cristalizá-la no passado e dando foco nas gentes, e não nos “patrões”. Desgarrado da “tropa”, Carlos Pinheiro é um “sinuelo” (um guia) naquele oeste cheio de belezas. 

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