segunda-feira, 5 de maio de 2014

A greve na UFSC e a batalha das 30 horas



A greve dos trabalhadores técnico-administrativos em educação (TAEs) da UFSC vai completar dois meses essa semana. Sessenta dias esperando um aceno do governo para negociar as reivindicações, e, como sempre, os trabalhadores são ignorados na velha tática de matar pelo cansaço. Já vão longe os tempos em que os governos temiam os trabalhadores, até porque a forma de luta também arrefeceu. Hoje, há muito mais o desejo de trabalhar dentro da ordem, de maneira pacífica, buscando negociações nas mesas "enrolativas" dos gabinetes do terceiro escalão. Falar com um ministro, nem pensar. As conversas são feitas com subalternos que não têm poder algum para decidir sobre coisa nenhuma. A presidente Dilma parece que sequer tomou conhecimento do movimento grevista. Nenhuma palavra, silêncio total.

Nas universidades a luta assume faces diferenciadas, conforme a capacidade de luta de cada instituição. Em algumas delas, como na de Minas Gerais, os trabalhadores chegaram a ser ameaçados de corte de ponto. E, outras, como a UNB, tiveram ocupações e movimentos mais fortes por conta de pautas internas. Mas, no geral, sob a batuta da pauta geral, a mobilização tem sido pouco eficiente para mostrar à sociedade os problemas vividos pelos trabalhadores e os motivos da greve.

Na UFSC, o movimento começou com força, muita gente nas assembleias. Há, sem dúvida, um arrocho salarial que precisa ser discutido, e os pontos do acordo da última greve que não foram adiante, como os famigerados grupos de trabalho com o governo que não saem da lógica de chamar reunião para outra reunião, sem avançar em praticamente nada.  Tudo isso movimentou os trabalhadores que aderiram em massa ao movimento. Depois, nas semanas iniciais aconteceram vários fechamentos de setores estratégicos, bastante importantes para a visibilidade do movimento e para a animação dos trabalhadores. Mas, como de Brasília a Federação não apontou maiores avanços, as mobilizações locais também foram arrefecendo. 

De qualquer forma, uma greve é sempre um momento importante para o trabalhador se reunir e discutir com profundidade os problemas da categoria. Assim, se não há muita movimentação de luta, há bastante reflexão sobre o cotidiano laboral. Na UFSC, os TAEs conseguiram avançar com muita qualidade no debate sobre as 30 horas, que é a proposta de abertura total da universidade para a comunidade, em turno ininterruptos. Assim, os trabalhadores trabalham em turnos de seis horas, e  a comunidade tem a universidade sempre aberta, inclusive no horário do almoço, quando muita gente dá com a cara na porta. 

Comissões foram formadas, oficinas foram feitas e, finalmente, chegou-se a construção de uma resolução que será apresentada à reitoria para que se implante, de uma vez por todas, os turnos de seis horas na UFSC. Para os trabalhadores a lei é clara: havendo funcionamento ininterrupto de 12 horas, está garantido o turno de seis. Então, como a atual administração falhou olimpicamente no processo de implantação, os TAEs decidiram que era hora de apresentarem eles mesmo a proposta. É bom lembrar que a administração Roselane/Lúcia aceitou criar um grupo de trabalho, composto por trabalhadores eleitos na base, mais representantes da administração central para fazer o diagnóstico da situação na UFSC. O grupo trabalhou por um ano inteiro e, ao final, apresentou um relatório no qual ficava clara a viabilidade para a implantação das 30 horas. Foi aí que a administração claudicou, falhou, não encaminhou as propostas e engavetou o relatório.

Agora, os trabalhadores decidiram atuar em consequência e apresentar uma proposta de resolução. Na assembleia chamada para discutir o conteúdo do documento que foi produzido coletivamente, dirigentes do Sintufsc apresentaram a proposta de discutir o mérito. Segundo eles, os trabalhadores não deveriam apresentar a resolução, mas deixar que a reitoria o fizesse. No debate, os trabalhadores argumentaram que a reitoria já tinha tido a sua chance. Não o fez. Tripudiou e não levou em conta a demanda dos TAEs. Agora, então, era a hora de responder à altura, apresentando a proposta de resolução. Os dirigentes do Sintufsc insistiram e levaram o assunto para a votação. Foram derrotados pela base que, em maioria, decidiu levar adiante a discussão do documento.

Lido ponto por ponto e debatido, o conteúdo da resolução foi aprovado pela maioria, com a abstenção de seis dirigentes do Sintufsc e um trabalhador. Agora, a proposta será levada ao Conselho Universitário e também será protocolada junto à reitoria. As estratégias de luta para a aprovação no Conselho seguem sendo discutidas.
Essa semana, uma caravana de trabalhadores da UFSC se soma às atividades de pressão que serão realizadas em Brasília. Será mais uma tentativa do comando de greve nacional, de abrir algum canal de conversa e de negociação com o governo. A expectativa é de que os TAEs mobilizados em Brasília possam dar um passo a frente nessa greve que só causa prejuízos, não apenas aos trabalhadores que  seguem sem suas demandas atendidas, mas também aos usuários das universidades, que perdem qualidade no processo educativo.

É bom que a sociedade saiba que os sucessivos governos de plantão nunca mudaram seu trato com a greve. Ao que parece, sem qualquer compromisso com a educação, eles insistem em deixar que o movimento se arraste por três ou quatro meses, para só lá adiante negociar uma migalha. Para quem sofre o fato de não ter sequer uma data base garantida, não há outra alternativa que não a luta.     

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