sábado, 20 de julho de 2013

Simón Ernesto esgrimindo ideias...


Verônica é uma mulher valente que criou os três filhos sem o hábito de tomar leite. Não é neurótica com isso, uma vez que o leite aparece em muitos alimentos. Mas, não precisando tomar, a gurizada não toma. Ela sempre ensinou que o leite da mãe é que é legal, assim como para quase todas as espécies animais. 

Quando ela ainda vivia no Brasil, e foi o tempo dos dois primeiros irem à escola, não houve maiores problemas, pois eles levavam merenda e ela podia preparar o lanche saudável, sem leite. Mas, agora, ela mora no Uruguai e, lá, é comum as crianças fazerem até três refeições na escola. Até aí tudo beleza, isso é bacana demais. Mas, a coisa começou a complicar quando Anaís foi obrigada a tomar leite. Verônica tentou dialogar com a direção, mas as professoras alegavam que não podiam dar tratamento diferenciado a uma aluna. Foi um tempo difícil. Havia toda a coisa de ser diferente, brasileira, chegando na cidade, e ainda isso? Decidiram então que a guria ia tomar o leite. 

Mas, quem diz que o corpo entende a lógica alheia? A pequena Anaís começou a ter dores de barriga, enjoos, gripe, toda a sorte de desarranjos. Não havia dúvidas de que era o leite. Só então as professoras permitiram que ela levasse seu próprio lanche feito de chás, frutas e coisas saudáveis. 

Quando chegou a hora de seu terceiro filho ir para a escola, de novo lá veio o problema. Haveria que tomar leite. O querido Simón Ernesto achou que podia enfrentar essa. Mas, tal e qual a irmã, também o corpo recusou e Verônica conseguiu que ele pudesse levar sua garrafinha de chá de gengibre com canela. Só que um garoto como Simón, que entende a vida de um jeito diferente, que é questionador, começou a ficar preocupado com as coisas que a professora dizia na escola. “Ela fala que o leite é bom para a saúde. Mamãe, tem que falar com ela”, pediu, por certo aflito com o que poderia acontecer com os colegas que tomam o leite. 

Verônica até escreveu um texto explicando para a professora as razões de por que na casa deles ninguém toma leite, pedindo que ela entendesse que cada um tem o direito de viver a vida segundo seus princípios. Dias depois foi até a escola para discutir a questão, mas descobriu que a professora sequer tinha lido seu bilhete. Pelo contrário. Ainda estava contrariada com as coisas que Simón anda fazendo.

E o quê anda fazendo Simoncito? Militância contra o uso do leite na alimentação. Todos os dias, na hora da merenda, ele reúne os colegas e explica que o leite ao ser tomado, fica podre na barriga e acaba fazendo mal à saúde. Os outros ficam no espanto. Aquele corpinho miúdo já aprendeu a discursar e defender suas ideias. 

Verônica se debate entre o orgulho e a preocupação. É bom ver o filho protegendo os colegas, explicando que há outras maneiras de comer. Mas também é difícil percebê-lo no meio da contradição. A mãe e a professora, duas mulheres importantes, divergindo tão radicalmente nos conceitos de alimentação. Pensou que isso pode ser confuso para ele. 

Bobagem, o garoto já tomou posição e mostrou que sabe muito bem tomar suas decisões. Mesmo confrontado com a autoridade da escola, não se furtou a pregar as ideias nas quais crê. Talvez por carregar o nome de dois grandes revolucionários (Simón e Ernesto) tenha tomado deles também a fibra. Talvez por que reconheça a força de sua mãe, as escolhas do pai. O certo é que esse garotinho já disse a que veio nesse mundo. Aconteça o que for haveremos de ver Simoncito pelos caminhos de nuestra América, esgrimindo seus valores, com a força de um gigante. Por hoje é o leite...

E amanhã, heim, Simón?   
  

Um comentário:

Torquato disse...

o gluten pode causar os mesmos efeitos da caseína. sem falar que tem maior concentração no leite fresco. o leite industrializado provavelmente é mais livre disso ai. Portanto, o câncer que ele causa pode acontecer ou não, mas vai ser decorrência de um um conjunto e não do todo.

pra uma criança o leite pode ser fundamental. mas como se sabe, a digestão é dificultosa se não tem uma atividade na escolinha que esteja adaptada à merenda. Mas como é tradição do ensino burguês separar tudo. como se nada fizesse parte de uma completitude, então os professores não ganham instrução pra planejar essas coisas. A formação deles ja vem dai.
Dai entra o açúcar. em uma dosagem correta ele pode estimular a atividade cerebral pra criatividade por um tempo momentâneo. O nescau tambem. Mas não da pra discutir essas questões com a maestra porque ela vai querer manter o limitrofe da educação pré-moderna.