segunda-feira, 1 de julho de 2013

Receita para um dia gris


Tem esses dias em que a alma está gris. O sentimento de abandono aflora, e a gente se encolhe feito um gato de rua, esperando que alguém ofereça um afago. Mas, não. Nenhum olhar piedoso, nenhum sorriso, todos estão muito ocupados consigo mesmos. Não bastassem todas as dores do mundo a criatura ainda precisa ir à loja da Oi resolver problemas que estão pendentes há meses. É que operadoras de telefones no Brasil são empresas do cão. Não te atendem por telefone e quando atendem não encaminham o serviço. Então, estava resolvido. Haveria que ir à loja onde tem algum ser humano capaz de atender.

O problema é simples. Trocar o endereço da linha. O pedido foi feito via telefone há quatro meses num atendimento feito por aqueles seres que a gente nunca sabe se são pessoas, se são robôs, se moram em Goiás ou na China. Tudo é muito estranho e frustrante. Passam dezenas de números de protocolo e quando tu pedes para ver o atendimento referente ao protocolo eles não encontram. E assim, vai. A pessoa pendurada no telefone, tendo ataques de nervos. E aquela voz robótica a dizer: sinto muito senhora fulana, não encontramos senhora fulana. E a pessoa a se arrancar os cabelos. A puta que te pariu! E o pobre do ser do outro lado, balbuciando as mesmas palavras, numa algaravia tão impotente quanto a do que reclama.

Dois ônibus depois e lá está o vivente na loja da Oi, que fica dentro do centro de compras Beira Mar. O atendente é um humano. Confere. Até sorri. “Meu filho, tô há quatro meses querendo trocar esse endereço”. – Hum!.... Tac tac tac no computador. “Sinto muito senhora fulana, mas não podemos fazer nada. O número é de fora”. “Mas como não podem, não estão conectados? Não usam a internet?”. “Sim, mas o sistema é fechado. Só podemos entrar no 48.” E não adianta chorar, espernear, arrancar os cabelos, cair em lágrimas. Não há o que fazer. O rapaz fica olhando como um cordeiro, assustado com o ataque histérico.   

Lá vai a criatura para o Procom, ver se encontra algum aconchego. Pega a senha e fica, fica, fica. Quando chega a vez. “Trouxe o protocolo? Tem que ter o protocolo”. “Mas aquilo não vale nada”. “É, mas sem o protocolo nem adianta”. Ódio ao cubo. Tivesse uma garrucha fazia um estrago, como aquele do filme “Um dia de fúria”. Sai da sala aos prantos. Chora pelo Procom, pela Oi, pela amiga que se foi, pela solidão, pelo medo, pelo amigo que a apunhalou. Chora sem parar, desfeita, desalojada de si. Está perdida.

Então, do nada, sento o cheiro que voeja por sobre o dia gris. É quentão. Um homem, com um carrinho, cheio de pinhão e quentão. É isso. Não precisa nada mais. “Me dá um copo”. “Grande ou pequeno?” “O maior”. E ele dá o copo fumegante, aquele cheiro de cravo, canela, gengibre e sei lá mais o que. Quentinho, vai descendo garganta abaixo, aquecendo a alma cinzenta. Gole, e gole e gole. A criatura vai andando pela Felipe com o quentão fumegante. Senta na mesinha de jogar xadrez, que está vazia. E fica ali, sorvendo aquele tanto de São João, de criancices em minas, de saudade da mãe. As lágrimas vão parando, o riso vai voltando e tudo à volta vai se colorindo. Um quentão. Apenas um quentão. Bãodimaissô!

Um comentário:

Clarice Villac disse...

Elaine,

fica aqui pra você um romrom
um olhar companheiro de cão
um gostinho de bombom
E Viva o quentão com pinhão !

:~)