sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Hatchepsut, a rainha-faraó








O templo e a múmia da rainha-faraó

Há 4.150 anos antes do hoje uma grande cidade era considerada a pérola do Egito antigo: Tebas. Situada à beira do rio Nilo ela foi construída para ser a capital na segunda unificação do reino. Dividida em duas partes Tebas se constituía a leste, na cidade dos vivos, e a oeste, na cidade dos mortos, onde hoje ainda se pode ver mais de 60 tumbas de reis e rainhas das dinastias 18, 19 e 20. Tebas era um lugar sofisticado e exuberante, que viveu seus altos e baixos, perdendo seu status de capital no final do período, voltando a brilhar em 1.570 a.C. na dinastia 17, deixando para as gerações atuais algumas das grandes belezas do Egito como o templo de Hatchepsut, o templo de Karnak, o Vale dos Reis e o Vale das Rainhas.

Naqueles dias Tebas se fez o centro do mundo, desde o reinado de Tutmés I, que empreendeu várias campanhas militares, ampliando fronteiras, subjugando vários povos, garantindo altos tributos. Foi nesse mundo de prosperidade que nasceu Hatchepsut, aquela que viria a ser a mulher-faraó. Ela tinha 14 anos quando seu pai, Tutmés I, morreu. Quem assumiu o reino foi Tutmés II, que também se casou com a irmã, conforme o costume. Quando morreu, o filho que o sucederia, Tutmés III (nascido de uma concubina), ainda era muito pequeno e a rainha assumiu o poder. Era ao ano de 1.479 a.C.

Durante sete anos ela se comportou como a rainha-regente, mas no ano oitavo Hatchepsut decidiu assumir o cetro de faraó. Para que isso acontecesse ela teve de contar com a ajuda dos sacerdotes do clero de Amon que inventaram para a rainha uma paternidade divina, já que sempre tinha sido assim: para ser faraó, a pessoa tinha de ser filha de um deus. A história toda pode ser vista no templo de Deir el-Bahari, construído para reverenciar o pai-divino Amón-Rá. As paredes contam que a mãe de Hatchepsut dormia quando o grande deus, assumindo a forma de Tutmés I, a encontra. Ela sente o perfume, acorda e, vendo o deus em todo o seu esplendor, entrega-se a ele. Dessa união nasce aquela que viria a ser faraó: Hatchepsut.

A história foi bem aceita pelo povo que nunca questinou a rainha. Ela acabou governando por 22 anos e trouxe muita prosperidade ao Egito. Liderou várias campanhas militares e chegou dominar a Núbia, incorporando-a ao reino. Conta-se que era uma mulher forte e linda e que vivia um romance secreto com o seu principal arquiteto, Senemut, o mesmo que construiu o imenso templo que leva o nome da faraó. Mas outros dizem que o romance nem era tão secreto assim, visto que existem várias estátuas que mostram Senemut carregando a filha de Hatchepsut, a princesa Neferuré. O fato é que os dois construiram um templo belíssimo que nasce da montanha.

Nele, como em todos os templos, é comum aparecer a figura do faraó em grandes estátuas e Hatchepsut é representada sem seios e com barba, o que parece ter sido vontade da própria governante para mostrar seu poder. Já em outros desenhos ela é retratada como uma mulher gorda, coisa bem pouco comum, já que os faraós eram sempre desenhados dentro de um padrão ideal de justa-medida. Alguns estudiosos acreditam que talvez seja para representar a idéia de um governo matriarcal.
A bela rainha que dirigia o Egito como se fosse um homem, inclusive vestindo-se como um, não governou sem problemas, apesar de ter sempre a seu lado, aquele que era seu amor: Senemut. E os problemas vinham de dentro de casa, através de seu meio-irmão Tutmés III, que reivindicava o trono.

Quando seu reinado cumpria quase 22 anos, uma ameaça externa vinda de inimigos antigos, os Mitanni, muda o rumo da sua história. A faraó estava doente, atacada por uma grave infecção e isso faz com que Tutmés III, seu meio-irmão, assuma o controle das tropas, faça uma campanha vitoriosa e, por conta disso, assuma o governo. Hatchepsut desaparece da cena política.

Desde aí a história de Hatchepsut se perde na história. Durante milênios ficou escondida e só agora aparece à luz do dia. Contam que seu amado Senemut não a enterrou no templo construído para ser a sua tumba, com medo que pudesse ser violada, e sua múmia se perdeu. Isso se explica pelo tremendo ódio que o irmão Tutmés III lhe dedicava e tanto que boa parte de suas estátuas e representações pictográficas foram borradas, com seu rosto apagado. Era a forma que o meio-irmão encontrava de extinguir sua história e fortalecer o poder real do seu filho Amenhotep II. Por isso acreditava-se também que ele a havia assassinado, espalhando partes do seu corpo por todo o Egito.

Mas, há três anos, a descoberta de três múmias de mulheres numa tumba do vale dos reis, pôs fim ao mistério. Junto às múmias encontraram um caixa com o nome de Hatchepsut, e dentro dela havia um dente. Numa das múmias também faltava um dente e daí, foi só somar dois mais dois. Era a rainha-faraó. Exames no corpo dão conta da causa da morte: infecção dentária e um câncer no osso.

Assim, apesar de ter tido seu rosto borrado no grande templo que construiu, a rainha sobrevive ao tempo e continua falando às gentes desde o passado. Agora, com seu rosto forte trazido à luz, ela incita o pensamento ao mostrar o quanto teve de se fazer homem para garantir o poder sobre os egípcios. Mas, ainda assim, o quanto conseguiu ser livre naqueles dias, mantendo ao seu lado o homem que amava.

São as histórias do velho Egito ainda agindo sobre o mundo. Fatos de um tempo antigo que, hoje, em Luxor (antiga Tebas) como em outros tantos lugares do país, sustenta a vida das gentes atuais. Sem o turismo cultural que movimenta milhares de dólares todo o ano as populações da beira do Nilo teriam uma existência bem mais dura. Em meio aos cantos de revolução e mudanças, os deuses antigos desenhados nas paredes parecem abençoar e proteger. Só que, dessa vez, não aos reis.

Um comentário:

vera toledo disse...

Querida Elaine!
Fiquei muito feliz em reaprender sobre historias do Egito, um pais que amo e que não me canso de visitar..Lá estive por 4/5 vezes e há muito que aprender e apreender com aquele povo, pobre sem ser miserável, seus copstumes, suas crenças, sua generosidade e sua alegria ao ver mulheres ocidentais que negam seus costumes tão belos em sua origem e sabedoria que nunca saberemos tudo!Uma aula de mundo, descer e subir o Nilo dá uma emoçaõ inexplicável...Não sei se conhece, mas se não...vá e ficará feliz ainda masi que conhece a historia grandiosa deles.Amo o Egito!Sucesso adorei seu jornal.