quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A incrível vitória do sim

Poderia ser o roteiro de uma novela, um folhetim, destes bem dramáticos que inundam as telas das televisões em toda a América Latina. Senhores feudais usando toda a sua força de coerção, o grande patrão geral fazendo chantagem, o uso da poderosa arma do medo e toda a sorte de intrigas e armações. Assim foi o referendo acontecido na Costa Rica, no último domingo, dia 9, que daria a resposta popular sobre se o país deveria ou não implementar o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, eterno vampiro a sugar as riquezas nacionais.

Por longos meses, o movimento social da Costa Rica conseguiu organizar uma imensa rede de defensores do “não”. Comitês patrióticos foram criados em cada cantinho recôndito do país. É, porque as gentes costarriquenses sabiam muito bem, tal qual já anunciara José Martí que: “união econômico é união política. O povo que compra, manda e o povo que vende, serve”. Por isso e por saber que os Estados Unidos nunca foi um parceiro, e sim um carrasco, é que o povo se organizou e construiu a possibilidade do referendo. Um ato inédito nesta “nuestra América”. Um momento histórico. Todas as pesquisas davam como certa a vitória do “não”, tendo chegado, nos últimos dias, a encantar quase 60% do eleitorado.

Pois, feita a votação e iniciado o escrutínio dos votos, veio a surpresa. O “sim” era vencedor. Já na manhã de segunda-feira, o jornal estadunidense Washigton Post estampava na sua primeira página: Chávez é derrotado na Costa Rica. A alusão ao governante venezuelano se dava por conta de que ele vem tentando implantar uma outra integração, a Alternativa Bolivariana para as Américas. Que é generosa, que não é predadora, que respeita a autonomia dos povos. Pois este era verdadeiramente o embate que estava sendo travado na Costa Rica, ALBA contra ALCA, esta última, a proposta de uma nova colonização a ser feita pelos Estados Unidos.

Na semana da votação, o poder do império já se fez sentir. Os meios de comunicação anunciavam à exaustão que se não fosse referendado o TLC, os Estados Unidos iriam retirar todos os investimentos do país, o desemprego aumentaria assustadoramente, a violência cresceria. Foi instalado o clima de terror. O presidente da república, Oscar Arias falava à nação, o embaixador dos Estados Unidos também e até o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, que deveria apenas fiscalizar o processo, deu declarações a favor do sim. Ou seja, todas as figuras nefastas, os cães de guarda do império, foram para as ruas praticar a velha e suja coerção.

O resultado (51% para o sim e 48% para o não) dividiu o país e criou uma fissura que só tende a se ampliar. Ninguém sabe ainda se houve fraude ou se o parte do povo se amedrontou, afinal, o poder do terror não pode nem deve ser subestimado. O certo é que no dia seguinte, os serviçais do governo estadunidense já estavam negociando a pátria. Estes três por cento que derrotaram o povo organizado vai cobrar a fraude que, se não foi nas urnas, efetivamente, foi política, como denunciam os movimento sociais. Ou afinal, como poderia ser chamado o uso indiscriminado da máquina pública, a danosa parceria dos meios de comunicação e a bem orquestrada campanha estadunidense, com toda sorte de embustes e jogos?

Assim, com a boca arreganhada, o TLC já começou a andar na Costa Rica. Muito em breve as gentes vão ver acontecer tudo aquilo que seus governantes disseram que aconteceria se ganhasse o não. Aumento da pobreza, desemprego, violência e todas as mazelas que o sistema predador estadunidense traz para os países onde finca as garras. O que a elite entreguista da Costa Rica não sabe é que aqueles 48% (coisa que não é pouca) não ficarão parados. As gentes lutarão! Há de chegar o dia em que a roda da vida vai girar. Foi só uma batalha, uma das tantas que ainda necessitarão ser travadas contra o capital. Fica a lição. O poder da água ainda é grande.

Por outro lado, na mesma semana, nasce finalmente o Banco do Sul, proposta integradora da Alternativa Bolivariana para as Américas. Tremem os criadores do FMI, Banco Mundial e toda a rede de predadores da América Latina. Um banco de desenvolvimento, de fomento, que deve trabalhar numa outra lógica, não de dominação, mas de efetiva parceria. Não é à toa que Washington joga todas as suas fichas contra a figura de Hugo Chávez. Então, em meio a tristeza da derrota na Costa Rica, me vêm de novo as palavras de Martí: “Os homens estão sempre caindo, é verdade, mas quando vêem um que anda firme, por conta da vergonha, todos saem andando!”... Andemos, pois.